54 - Cabelo Branco

Não teve jeito, ele apareceu.

26 anos, 26 benditos anos, e lá estava eu no sofá sendo sondado por olhos a procura de. E sim eles (oa olhos, é claro) encontraram um longo e evidente fio branco.

Ela puxou (ela a Fabiana) o branquelo, e ele foi extraviado do grande emaranhado.

Não sei porque, mas fiquei um bom tempo olhando aquele fio, aquele meu cabelo branco.

Sempre tive medo de amadurecer de idade e não ter garantias, Rá Rá Rá, garantias do que? 

Sei lá, não tenho a menor idéia, o que me importava era que eu, o mais rápido possível estivesse pronto. Pronto pra que? Sei lá! Pronto pra mostrar pros outros que eu estava pronto. Por que? Sei não. Minha extinta psicóloga insistia em dizer que eu queria provar pro meu pai que eu poderia ser melhor, já que tanto sofrimento ele havia me causado com seu "nem aí para nada", que não fossem seus projetos...

E daí eu preparo, me preparo e cá estou eu, nem aí para o mundo, vislumbrado pela minha obra. Que absurdo. A safada tinha razão. Eu não!

Com 19 anos eu já morava com minha namorada, já havia comprado meu carro, já tinha aberto minha empresa, já sabia o que queria fazer como profissão, já tinha escolhido meus amigos, e descartado meus inimigos. Ah tá. Sabia do que?

Ai faço esse projeto maluco, primeiro para mim, e logo como tudo na minha vida, quero que seja para provar alguma coisa... PAREI, neste momento eu PAREI. Calma, eu não desisti. Eu parei de querer provar.

Um combinado comigo.

"Cara, não importa o que vai sair, não pode importar, senão vc fica louco, as pessoas já sabem que se for preciso vc faz uma trilha bem profissa, do jeito que tem que ser, pra TV, pro Rádio, pra o raio que o parta. Esse projeto não é isso, ninguém te paga para isso, extraia-se e jogue no mundo o que importa e principalmente as porcarias, para que saiam da sua cabeça, para que não contaminem suas próximas obras. Olha que privilégio, obrigar-se todos os dias a tirar de dentro do seu próprio ser as coisas que não prestam. Que assim seja, coragem ariano, afinal vc já tem cabelos brancos, não precisa mais ficar provando nada. Afinal, de verdade, ninguém está nem aí, é somente vc e seu egocentrismo achando que o mundo o observa"

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A música de hoje, tem uns acordes. Uns acordes muito lindos, e esse é o brarato dela. Eles me encantaram ao sair, num violão de nylon hiper simples e depois veio uma melodia, que felizmente não foi pensada por um guitarrista, que olha as escalas e tenta enfiar as notas a qualquer custo. As notas da melodia, vieram apenas para respeitar os belos acordes. Não tinha que ter mais nada, nem uma percussão, nem um baixo, nem uma bateria, nem outra porcaria qualquer. É só isso mesmo que era pra ser, e talvez pela primeira vez eu deixei assim. Cru, do jeito certo.

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